Medici

Nome:MediciAutor: Reiner Knizia

Ano: 1995

Editora: Amigo Spiele

INTRODUÇÃO

Medici é um daqueles jogos que já passaram pela ideia de muitos gamers. Pelo menos, dá ideia que já todos ouviram falar, que têm curiosidade em conhecer. Ou porque está na lista de jogos para leilão, ou porque está dentro da temática do Renascimento, época, normalmente, muito apreciada por todos, ou porque é de um senhor que se chama Reiner Knizia. A minha motivação passou por tudo isso e, não estou nada arrependido.

Aqueles que estão, mais ou menos, familiarizados com os jogos de Knizia, sabem que o tema, normalmente, fica na tampa da caixa. Ra, o antigo Egipto. Tigris e Euphrates, Mesopotâmia. Taj Mahal, Índia. Medici, Itália renascentista. Quando começamos a jogar percebemos logo que o tema fugiu a partir do primeiro turno. Este jogo não é a excepção a essa regra. Os Medici não são vistos nem achados, o Renascimento passa a ser, aparentemente, uma época em que o transporte de mercadorias em barcos é elemento marcante. Mas, mesmo considerando isto, não devemos retirar uma única pontinha de mérito à combinação que o jogo apresenta.

MATERIAL

Se, por um lado, já abri espaço em algumas críticas para falar do material de jogo, por achá-lo soberbo (vide Cleopatra), por outro acho injusto não remarcar a falta de qualidade deste de que agora vos falo. Que coisinha miserável. Tirando as cartas de jogar, que até têm um tamanho razoável e, porque não ficam nas mãos o jogo todo, não se estragam assim com tanta facilidade, não há nada que preste nesta produção. O desenho é inenarrável, acho que até deve ter sido inspirado em alguns dos desenhos da minha filha de quatro anos, mas da fase em que ela tinha quase dois, os tokens de jogo são minúsculos e, em relação ao desenho, infelizmente, é coerente com o das cartas, assim como o do tabuleiro. A caixa onde aquilo vem é indescritível. Mas eu vou tentar. Uma coisa quadrada, sem divisórias, com as peças lá dentro. E é só.

O JOGO

Medici é também um jogo que tem leilão. Julgando-se ser unicamente um jogo de leilão incorre-se num erro importante. Porque Medici tem, adicionado ao leilão, um sistema de "bolsa" que o torna num jogo muito mais interessante, com várias oportunidades de vitória e uma complexidade inesperada. Ou seja, observando a mecânica de jogo ela transporta-nos para o leilão puro, mas quando começamos a contornar a curva de aprendizagem, ela leva-nos para um jogo que vive de leilão, mas que se pode vencer sem licitar. Isto é mais inteligível jogando...

Quando vemos na caixa que a duração é de 60 minutos esperamos ser, como é mais ou menos habitual, uma informação errada. E é. A vantagem, na minha opinião, é que é uma informação errada por excesso e não por defeito. Ou seja, dificilmente o jogo demorará mais de 45 minutos. Um tabuleiro que tem uma linha de dinheiro onde todos os jogadores colocam os seus marcadores, bem como cinco tabelas dedicadas, cada uma a um produto, e que representa um sistema simplificado de "bolsa". Um baralho de cartas divididas em vários produtos e com números de 0 a 5. E o jogo é só isso.

A mecânica do jogo, essa, é o leilão. Cada jogador, por turno, volta do baralho, uma, duas ou três cartas. Essas cartas são depois leiloadas num sistema de "once around auction". Ou seja, cada jogador, uma única vez, começando com o jogador à esquerda do que voltou as cartas, começa por licitar uma determinada quantia em dinheiro. Quem licitar mais alto, e aqui tem benefício o jogador do turno em curso porque é o último a licitar, fica com as cartas leiloadas. Dependendo do número que ofereceu, o jogador vencedor do leilão, recua as casas correspondentes na linha de dinheiro que está no tabuleiro. Cada jogador pode, no máximo, embarcar 5 produtos (5 cartas). Ou seja, se um jogador já licitou e venceu um leilão com 3 cartas, já não pode voltar a licitar por um outro leilão que tenha três cartas à "venda". E aqui as coisas não são nada simples de gerir.

No final, quando já todos os jogadores tiverem os seus barcos cheios, a isto chama-se o final do dia, com cinco produtos cada um deles, vê-se quem tem a maior soma de pontos, contabilizando os tais números que as cartas têm de 0 a 5, sendo atribuídas as classificações. Por exemplo, num jogo a três jogadores, um jogador somou 17 pontos ganha 30 dinheiros, outro somou 13 ganha 15 dinheiros e, o terceiro, que somou somente 12, não ganha nada.

Para além destes números das cartas, elas contêm também, cada uma, um tipo de produto. É na tal "bolsa" que esses valores são contabilizados. No mesmo exemplo de três jogadores, o primeiro tinha quatro diamantes e uma espada, anda, na tabela de cada um dos produtos em causa, respectivamente, quatro e um espaços. Os outros jogadores fazem o mesmo, conforme o tipo e o número de produtos que conseguiram embarcar. Estes resultados são fundamentais porque, para além do dinheiro que se recebe por ser o primeiro ou o segundo, no final de cada dia, também são somados pontos a quem vai à frente e em segundo lugar em cada uma das tabelas de produtos. Estas posições de cada jogador no mercado vão-se mantendo, somando, durante os três dias - não literalmente - que dura um jogo. No final desses três dias (jogo com três jogadores) quem tiver mais dinheiro na linha do dinheiro, vence.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Medici pode ser considerado um filler. Pelo menos em termos de tempo, porque em termos de exigência podemos considerar ser um bocadinho mais pesado que um filler tradicional. Tem uma jogabilidade fantástica, rápido, muito inteligente e difícil de vencer. É um dos melhores jogos de Knizia, na minha opinião e, comparando com o "master" dos jogos de leilão, Modern Art, torna-se muito mais interessante devido ao facto de conter outras variáveis, como o mercado de produtos e a interactividade entre os jogadores. Porque se Modern Art tem interacção, Médici terá, pelo menos, em igual medida.

Aproveitando uma nova reedição do jogo aconselho todos a conquistar este título para as suas mesas. O jogo custa cerca de 30€ e é, agora, muito mais fácil de encontrar. Não conheço as outras versões mas, se puderem evitar, não comprem a da Lui Même. Muito, muito pobre.

Classificação: 8.5

Paulo Soledade