Black Friday

"Malas é coisa de gaja. Eu gosto é de bola!"

Zé Augusto

"O resultado não foi injusto mas a diferença de pontos foi demasiado grande para aquilo que se passou durante a partida. O jogo correu bem, as malas estavam equilibradas de início com ligeiríssima vantagem para as de laranja. Foi rapidamente que se esbateu essa diferença e o equilíbrio dominou. Para o final do jogo, uma espécie de ajuda do árbitro definiu a partida, embora o talento do jogador mais capaz tivesse, ainda assim, vindo ao de cima. O erro do árbitro foi o de, decididamente, deixar um jogador, muito rapidamente e apanhando os outros todos desconcentrados, tirar uma mala do saco e subir o preço daquelas acções. Maldita companhia laranja que, isolada na frente, conseguiu uma valorização de mercado sem precedentes deixando todas os outros muito para trás."

Tiago Sá

"A sorte de uma decisão no escuro ou a mala daquela cor ou da outra poderiam ter decidido o encontro a favor de outro jogador."

Ruben Brito

... mas foi assim que o destino escreveu e é assim que o destino controla os jogos como o Black Friday de Friedemann Friese. O chato do homem tirou uma sexta-feira por semana, algumas horas, para avançar com um projecto de curiosidades. Uma espécie de sexta feira verde, com um tabuleiro verde, feito em horas verdes, numa moleskine verde e com marcador verde. A merda é que saiu tudo preto, como o título, de resto. E aí o Friese acertou. O título espelha bem aquilo que o jogo representou, para mim, embora estejamos a falar de uma review de jogo único. Uma "one night stand" frouxa.

A experiência negra, como a sexta feira, até nem o faria prever. As regras estão más. Pouco claras, demasiado redondas e pouco objectivas. As ideias são boas, tira mala daqui, põe mala acolá e mete no saco e tira do saco e retira do mercado para voltar a meter no mercado, etc. De sublinhar que, malas, neste contexto, são acções. As cores, são as empresas (companhias). O saco preto é só para idealizar o desconhecido mercado de capitais. O interesse de tudo isto esbate-se na primeira meia hora de jogo quando ainda ninguém (ninguém) tinha conseguido decorar como fazer o procedimento de venda e compra de acções (malas). Não que seja demasiado complexo mas, demasiado abstracto, certamente.

Nas mudanças de turno - e são mais que muitas - vê-se a importância da mão quente de quem irá tirar malas de dentro do saco. É que, o número de malas que estão dentro do saco de cada cor é, mais ou menos, influenciado pelos jogadores. Tirar malas de uma cor é bom para essa cor porque ela vai subir no mercado bolsista. Caso uma cor não saia, ou saia menos que as malas de cor preta (representam a tal sexta feira), baixa-se no mercado. O problema é que, embora a probabilidade exista diferente de cor para cor e de mala para mala, é perfeitamente possível (não só é como foi) tirar malas de cores mais improváveis que decidem jogos. Tirar 3 malas de uma cor fazendo o mercado subir tipo 15$ em cada uma, dá ao jogador seguinte uma vantagem definitiva (pelo menos assim pareceu).

Mas nem tudo foi mau nesta sexta feira. As mecânicas com que o jogo nos brinda até são curiosas e mostram alguma originalidade. O problema é mesmo elas serem muito pouco intuitivas. Para além disso, e pegando no que os jogos devem ser, o divertimento é (foi) nulo. Muito chato, repetitivo e pouco relevante, tudo o que se fez. Tirar malas de algumas cores é giro. Não tirar, não é. Decidir jogos com um saquinho de malas coloridas em que ganha o mais sagaz tirador de malas do mercado, não é para mim. Isto sem retirar ponta de mérito ao vencedor da noite de sexta feira. Um brilhante economista que, de malas e lingotes, percebe ele. Mais que o Friese!

"Jogámos num tabuleiro inclinado. Ao fim da primeira meia hora de jogo já se sabia quem iria vencer. Por muito que se tentasse contrariar isso, hoje a sorte não estava deste lado!"

João Caixinhas - estratega

Paulo Soledade

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