Loures

Nada como ser o primeiro Presidente da Câmara de Loures num dia de autárquicas. Foi ontem, domingo e dia de eleições que, pela primeira vez experimentei o belíssimo jogo do autor nacional Gil d'Orey.

Começando por aí - belíssimo - porque me dá a sensação se estarmos perante uma produção muito profissional e muito bem conseguida de um produto português. Reconheço-lhe méritos importantes, méritos que atiram para longe a habitual pequenez atávica que percorre o coração tuga que acha sempre que, sendo português não vai prestar. Pois, meus amigos, presta. O tabuleiro faz-me lembrar o tabuleiro do Tinner's Trail. Mostra o mapa do concelho de Loures, com caminhos antigos, vilas ou lugares, mais ou menos, importantes, pontos de passagem e locais onde estão os mais diversos produtos a ser comercializados pelos jogadores.

Na verdade, e apesar de estarmos perante um jogo que elege um Presidente da Câmara, Loures não parece um jogo de política. Aliás, a sensação que passa é a de um pick up and deliver (nome técnico para o tradicional "agarra e põe ali") muito mais de cariz e sensação económica e comercial do que política. O que os jogadores fazem é colher produtos e depois vendê-los para os mercados exteriores de Loures - Lisboa, Vila Franca ou Mafra. Para o conseguirem só têm de usar as suas cartas de movimento e deslocarem-se pelo tabuleiro, colhendo estes produtos e, quando chegam a um ponto de venda externo (existem 4 no tabuleiro) podem fazer a venda, ganhando 2 pontos por cada produto vendido. Simples. Aliás, parece-me que é intenção do autor manter um formato de jogo simples, jogável por todos e a partir dos oito anos.

Associado às vendas de produtos, o jogo tem também a defesa do património. Todos os jogadores começam com 5 cartas de património na mão. Cada uma destas cartas representa 4 pontos negativos no final do jogo, desde que não sejam descartadas. Para se descartar uma destas cartas basta ao jogador em causa jogar uma carta e ir para o local que essa carta diz. Mas para o fazer ele tem de pagar 2 pontos vitória. Ou seja, no fundo, abdicam-se de dois pontos para no fim não perder 4. Mas estas cartas não são só coisas más a atrapalhar. Um uso inteligente destas permite fazer deslocações mais rápidas e eficientes pelo tabuleiro. Ou seja, para ser bem jogado, Loures, apesar de simples, necessita de alguma experiência.

Os movimentos no tabuleiro sem em formato de ponto a ponto e tem ainda cartas com um símbolo de barco que permitem viajar desde uma localidade com cais até outra qualquer localidade com cais. Mais uma vez, o uso eficiente do mapa é uma mais valia.

Se procuram um jogo português, de autor português, sobre Portugal (parte de Portugal, pelo menos) este Loures é uma boa opção. Os componentes são de qualidade muito acima da média (deixo só uma crítica às cores usados para os locais no tabuleiro que não são muito fáceis de ler). O tempo de jogo, para a complexidade que tem é excelente - falamos de cerca de 45 minutos. Joga-se de 2 a 6 jogadores e entretém uma tarde de chuva. Para além disso, aprender com o jogo também entra na contabilidade - o património de Loures está detalhado nas cartas de Património e o livro de regras traz um rol de informação do concelho bem interessante. Uma boa maioria absoluta foi o que Loures conseguiu. Parabéns ao autor e ao concelho.

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