Valdora

Pré-preliminares #1Só joguei Valdora uma vez. Joguei-o com 3 jogadores - nem me parece ser essa a melhor constituição - e, para além disso, joguei-o cansadíssimo. A minha opinião deve ser, digamos, filtrada ao máximo por quem lê esta crítica. É uma crítica de um jogo só, num dia cansado, mas cheio de saudades de casa. Uma espécie de “bloco do eu sozinho”. Dêem-me o desconto, por favor.

Pré-preliminares #2

Michael Schacht é um autor consagradíssimo. Caso seja necessário relembrar, vencedor do Spiel des Jahres 2007, com o belíssimo Zooloretto. Ele faz um tipo de jogo, opinião minha, familiar ou moderadamente familiar, com uma - no máximo - duas mecânicas e poucas regras. Numa escala de sucesso, gosto dele este bocadinho assim, diria, o suficiente para ter uns 10 jogos por ele desenhados. Eu sou homem de jogos mais pesados, menos médios, todos sabem. Posto isto, também, mais um descontozinho, por favor.

Preliminares

O ano de 2009 já vai a meio. Ou melhor, já vai a mais que meio para quem, como eu, conta os anos desde o Verão. Por causa disso, já é tempo de começarmos a falar das novidades e dos jogos deste ano. A feira de Nuremberga já lá vai e alguns jogos novos com ela apareceram, numa espécie de Primavera lúdica. Bem a propósito, este jogo de que vos falamos parece-se com a Primavera. Pelo menos na caixa. A caixa, para mim, mostra o sopé de uma montanha, coberta de neve onde, vários exploradores se encontram e partem à descoberta da cidade imaginária de Valdora. O céu azul acompanha-os nessa jornada. O dia está bonito mas frio. E o jogo também.

Storyline Valdora

Neste sítio imaginário os jogadores percorrem cidades procurando meios (ferramentas/transportes) para completar missões e, entregando-as aos respectivos patronos, seus solicitadores, ganhando pontos vitória. A movimentação é simples, os locais onde estão as missões, os transportes as pedras preciosas, as moedas e os patronos estão distribuídos pelo tabuleiro.

Cada um de nós apetrecha-se de ferramentas, fazendo lembrar os RPG’s de computador que eu nunca joguei e onde se acumulam coisas (armas, mapas, martelos, picaretas ou chaves) que depois usa para completar missões. Quando alguém chega a um local onde estejam pedras preciosas pode carregá-las, caso tenha como fazê-lo. Para se carregar uma pedra azul tem de se possuir um instrumento que permita carregar uma pedra azul. Caso não se tenha esse instrumento, não se pode carregar essa pedra. O objectivo é, quando se conseguir as pedras suficientes para completar uma missão (uma missão é uma carta que tem representado um brasão de uma família e entre uma a três pedras preciosas de cores variadas) deslocamo-nos ao sítio com o brasão igual ao da missão que queremos entregar e despejamos as pedras. Na sequência disto ganhamos um marcador dessa família. Os marcadores de cada família têm cores diferentes e dão pontos vitória no final do jogo, assim como as missões que se vão fazendo.

Migração

A ideia base de Valdora é percorrermos a região à cata daquilo que nos der mais jeito. Confesso que é um dos pontos que mais me agradam neste jogo. A movimentação é rápida e sem grandes constrangimentos. Talvez por isso eu a esteja a realçar. Os únicos constrangimentos que existem são: seguir as trilhas do tabuleiro, claro, e parar sempre que se chega a uma cidade. Gosto da forma como se processa o movimento porque não pressupõe nada complicativo comc ter pontos de movimento, ou mesmo não podermos passar ou parar num local onde esteja outro jogador. Nada disso. Muito simples e rápido.

Aqui encontramos outra característica dos jogos de Schacht – turnos rápidos e curtos. Tipo pólvora seca, um turno deste jogo é do género “já és tu a jogar pá!” E isso também é uma vantagem para mim. Eu gosto de jogos que tenham o tal gingado simples e rápido. Mas convém esclarecer que gosto disso nestes jogos de corpo médio, claro. Não me assustam os jogos mais trabalhados e presos com turnos mais longos. O que me assusta são jogos médios e básicos com turnos que não sejam assim, rápidos. Aqui temos mais uma vantagem deste Valdora – muito fluído e, grande parte dessa fluidez advém, precisamente, dessa movimentação simples e livre dos jogadores.

A Primavera ainda agora começou

Valdora parece ser um daqueles jogos complexos de saber jogar bem porque é exigente na simplicidade que usa com a movimentação e porque faz da decisão (também simples) de obter ou não dinheiro, uma grande virtude na estratégia.

Se os turnos são rápidos e simples (não simplistas) aonde é que sobra tempo para a estratégia? Digamos que a retórica favorece o jogo. É um simples equilibrar de decisões entre optimização da movimentação e escolha das tarefas a realizar. Parece ser mais simples que aquilo que é, na verdade. Como em todos os jogos, ou quase todos, não basta uma primeira vez para se saber jogar bem, claro. Mesmo com esta crítica a basear-se num único teste, primário, consigo afiançar que é difícil maximizar estas rotas no tabuleiro. Leiam-na – à crítica - com todos os pontos e todas as vírgulas que já antes pedi que lessem mas, assim abertamente, confiem que sim – este é um jogo difícil.

Se conseguimos um resultado positivo na entrega de esta ou daquela missão, não podemos vislumbrar se foi ou não a melhor decisão porque os nossos adversários já de lá vêm também. É tudo assim muito simples e rápido e não caminhamos sozinhos. A curiosidade com que as voltas e voltas do tabuleiro fazem esboroar as nossas tentativas de optimizar os nossos recursos, esbarram também na incompetência dos outros. E é este discurso redondo, tal como é esta crítica, redonda, que faz o jogo rodar na atitude despreocupada e simples dos jogadores que, mexem daqui para acolá e, sem se aperceberem, fizeram o maior disparate de sempre.

Se começamos a pensar nas vezes em que tomamos cada decisão, elas são muitas. Parece um jogo repetitivo. Aliás, é um jogo repetitivo. Joguei-o a três, como disse e, com os tais turnos rápidos, dá ideia que estamos a fazer as coisas muitas vezes. Com mais jogadores, e considerando que as condições que fazem com que o jogo termine são mais facilmente conseguidas, torna-se menos repetitivo porque, naturalmente, cada jogador jogará menos vezes. E é aí que parece que o jogo deverá ser melhor, com menos turnos por jogador. Porque, precisamente, penaliza mais o erro, dando menor margem de manobra e premiando mais, em caso de sucesso, quem arrisca mais.

Mas a conclusão, para mim, continua a mesma: os jogadores mais experientes conseguem levantar a taça, quase de certeza.

Uma só andorinha

Em Valdora a disputa pelas pedras e missões é muito superficial. Não há uma interacção clássica. É mais um tipo de interacção camuflada, que se baseia, sobretudo, na antecipação do movimento. A acção que alguém iria fazer pode ficar destruída pelo jogador que jogou antes. Ou o mais incauto dos jogadores pode ferir de morte a sua própria estratégia, numa espécie de “morte morrida” e não de “morte matada”, se perder a noção do que os outros estão a fazer. Nesse sentido, há mais que uma andorinha a fazer a Primavera de Valdora mas, tal como a caixa no topo da montanha, estamos a falar de um jogo frio e algo distante. Poderá agradar mais com a experiência a aumentar e com mais jogadores mas, por agora, apesar de ser um jogo muito sólido e bem desenhado, não tem a paixão e o salero do Verão. É bonitinho e funciona mas, saudades, saudades, eu tenho é do Verão.

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