2008
Agricola
"I‘d like to thank you for the Portuguese Game Award. I wish for myself that this award will give us the impulse to produce a Portuguese edition of the game. It’s surely something special that the game established oneself in the voting, although there is only an English (maybe Spanish?) edition of it. It’s always interesting for me which other games it has had to compete with. For instance, I only know there will be a duel Agricola vs. Dominion in the Netherlands. I’d like to know whether the Portuguese Game Award also represents Brazil and which cities the gaming scene in Portugal concentrates in. I hope that Agricola will contribute to promote gaming in the rural areas in Portugal. Unfortunately in Germany, complex gaming is rather a phenomenon of large cities."
Best wishes,
Uwe Rosenberg
Agricola é o grande vencedor do "Jogo do Ano 2008". Esta pérola de Uwe Rosenberg não pode passar despercebida ao público que gosta de jogos e nós, publicamente, queremos sublinhá-lo com a atribuição deste prémio.
Nós (spielportugal) não somos conhecidos por sermos adeptos de jogos mais maistream ou seja, com gostos partilhados pelas massas mas, a realidade é que, este Agricola, foi o jogo mais querido e mais competente que tivemos oportunidade de jogar este ano. Achamos que ninguém irá ficar surpreendido com este troféu que é, aliás, bem merecido.
Ao autor, Uwe Rosenberg, um agradecimento especial pelo que tem proporcionado aos jogadores de todo o mundo. Assim como há tempos haveria um "antes de Puerto Rico" e um "depois de Puerto Rico", é seguro afirmarmos que, nesta altura, o mundo dos jogos faz mais sentido com esta era "depois de Agricola". Tudo encaixado, este jogo soma esta distinção (mais uma) que, esperemos, lhe valha mais um reconhecido mérito.
A eleição...
O júri que elege este prémio tem como representantes os elementos pertencentes ao spielportugal. Cada um destes representantes escolheu um conjunto de dez jogos (produção de 2008), colocados por ordem de preferência, para submeter a votação. Depois de encontrados os 5 mais votados, interligando todas as listas, fez-se uma votação para encontrar o vencedor.
Cada um destes 5 jogos finalistas, foi apreciado, considerando variados parâmetros e pesando sobre eles factores objectivamente distintos:
Produção - 15%
Tema - 10%
Mecânicas - 10%
Rejogabilidade - 10%
Interacção - 5%
Tempo/Diversão - 50%
Todo o regulamento do prémio, aqui.
Eis os resultados finais (0/20):
O grande vencedor de Jogo do Ano 2008 é, portanto, Agricola. O autor, Uwe Rosenberg, irá receber o troféu, criado para o efeito.
Eis também algumas reacções internas à consagração de Agricola, sem dúvida, um peso pesado da nova ordem dos tabuleiros do mundo. Uma vez mais, parabéns Uwe Rosenberg e Lookout Games pelo magnífico trabalho que vêm realizando e pela forma indelével como têm marcado a cena dos jogos de tabuleiro por todo o mundo.
Comentários...
"Agrícola é aquilo a que se pode chamar um blockbuster. Um jogo com um sucesso de "bilheteira" tremendo que rapidamente trepou para nº1 no boxoffice dos jogos de tabuleiro. Tem tema, originalidade, é familiar e ao mesmo tempo complexo, tem o tempo de jogo certo, chegando a ser viciante. Goste-se ou não de alguns dos mecanismos, das escassas estratégias ganhadoras ou da quebra das regras como as conhecemos, o jogo foi uma lufada de ar fresco no mundo dos jogos. Para mim o jogo do ano 2008. Este vai ficar para clássico... agora não exagerem nas sequelas..."
Nuno Sentieiro
"Agricola foi o grande acontecimento do panorama mundial dos jogos de tabuleiro neste ano que passou. E foi-o quando já ninguém acreditava na capitulação de Puerto Rico. Um incrível sucesso, esta história medieval, de tema chato ou banal mas que, pela forma como conseguiu aliar envolvimento dos jogadores, dificuldade em cumprir objectivos e, ao mesmo tempo, simplicidade nas regras e rejogabilidade ímpar, cativou todos de todo o mundo. Uwe Rosenberg acertou na lotaria e deixou a sua marca neste mundo dos jogos. A sua influência no panorama mundial é, agora, um facto mais que evidente e, obviamente, merecida!
As escolhas deste ano traziam também um belíssimo Giants, provavelmente o mais original ou "jogo de diferente sensação" do ano. Caso houvesse esse prémio era direitinho para aí. Também a produção é de enaltecer.
Num outro patamar encontramos Le Havre. Também de Uwe Rosenberg este é um belíssimo jogo com muitoaoriginalidade também mas que, infelizmente, peca pelo tempo que demora a jogar.
Não posso deixar de sublinhar o facto de haver dois jogos de uma pequena editora como a Matagot. Se já no ano passado havia sublinhado a qualidade da produção de Utopia, este ano não posso deixar de enaltecer este trabalho que vem sendo desenvolvido pelos simpáticos gauleses. Eu sou cliente!"
Paulo Soledade
"O Agricola foi sem dúvida um jogo surpreendente. Já muito se tinha ouvido falar deste jogo antes dele nos chegar às mãos. A primeira sensação foi estranha, pois o jogo era impiedoso e dava a sensação de terminar quando estávamos a começar a jogar. Mas acabámos por descobrir que o jogo é mesmo assim. Não se consegue fazer tudo, ou quase nada. As cartas vêm dar-lhe ainda uma maior dimensão, embora por vezes estas possam ser “injustas”. Alta rejogabilidade e um tempo/diversão muito acima da média, fazem deste um excelente jogo.
Quanto aos outros nomeados, destaco o Giants. É um jogo diferente, pois obriga à cooperação entre os jogadores, ou caso contrário este pode arrastar-se eternidades, mas assim que os jogadores se mentalizam disso a experiência é muito acima da média. Uma excelente opção e com um grafismo realmente bom.
Le Havre, Nefertiti e Princes of Machu Picchu foram os outros 3 nomeados. Começando pelo Machu Picchu, há que destacar que tem uma pontita nossa (como playtesters). O jogo é um Rondel Vivo. Perdeu um pouco em grafismo e no final de jogo em que fica sempre uma réstia de amargo de boca. O Nefertiti é um jogo bem divertido, mas a uma escala diferente, um pouco o outsider. Quanto ao Le Havre é mais uma pérola do Uwe. Um pouco mais monótono, demorado e repetitivo que o Agrícola, mas um excelente jogo. Talvez um jogo para jogar quando houver mais tempo."
Carlos Ferreira
AGRICOLA de Uwe Rosenberg
A Fórmula é simples e Uwe foi esperto o suficiente para lhe dar a forma e a mecânica necessárias para o seu sucesso. Pegar no mecanismo de worker placement que tanto sucesso fez em jogos como "Caylus" ou "The Pillars of the Earth", arranjar um tema que seja de facto novo e diferente, mesmo correndo o risco de ser prosaico, e juntar-lhe, na forma, uma infinidade de cubos e cilindros e outras formas geométricas. Mas a Uwe isto não lhe pareceu suficiente e então teve a clarividência de juntar a este cocktail um mecanismo de cartas e respectivo hand management o que revolucionou por completo a vida agrícola. Não só resolveu a questão da rejogabilidade, como criou um novo conceito, uma nova mina de ouro, com decks de cartas a sair todos os anos. Para além disso, surge a moda dos qualquercoisameeples. Vegimeeples, animeeples, a moda pegou de tal modo que até já chamam aos carrinhos de madeira do "Automobile" os automeeples. E claro, as cartas... a moda das cartas não é nova, mas Uwe deu-lhe um novo encanto, uma nova vida e agora é ver aparecer jogos de todo o tipo e feitio com decks imensos de cartas. Para além da apreciação conceptual do conteúdo, AGRICOLA é na sua génese um jogo muito simples, cheio de decisões difíceis, cheio de angústia. Produzir recursos para alimentar a família e fazê-la aumentar e de novo procurar mais recursos para a voltar a alimentar e tentar, ainda assim, prosperar. É como na vida, simples na teoria e quase impossível de concretizar na practica.
GIANTS de Fabrice Besson
Há medida que vamos jogando mais e mais jogos, torna-se cada vez mais difícil aparecer um jogo que de facto nos surpreenda e traga algo de novo. Com GIANTS esse momento cada vez mais raro aconteceu. Surpreendeu-me, apanhou-me desprevenido e fez-me sentir como da primeira vez que joguei um jogo de tabuleiro a sério. GIANTS possui um conjunto de mecanismos, que funcionam de forma elegante entre si. Uma espécie de worker placement que serve não só para activar determinadas personagens especiais e respectivas habilidades, como serve de corrente humana para transporte das imensas estátuas da ilha da Páscoa. A misteriosa ilha da Páscoa e a respectiva produção de estátuas é o tema do jogo e entre si os jogadores vão-se ajudando e competindo pelas melhores e maiores estatuas e pelos melhores locais para as eregir. O equilíbrio entre a cooperação e a competitividade é uma gestão difícil de fazer e fundamental para se vencer este jogo. Refrescantemente temático e inequivocamente desafiante, GIANTS é, para mim, uma das maiores surpresas de 2008.
THE PRINCES OF MACHU PICCHU de Mac Gerdts
Autor que por estas bandas é muito querido, Mac é acima de tudo um amigo que nos vai brindando com a possibilidade de testarmos os seus protótipos. TPoMP foi assim, desde o 1º esboço até à arte final, um protótipo jogado e testado até à exaustão, de tal modo que chegamos a ficar fartos dele ainda antes da sua estreia. Mas é assim a vida àrdua de um betatester... Piadas à parte, Este jogo teve tantas modificações e alterações, que acabou por nos surpreender no final. Mac já havia criado um mecanismo que é a sua marca registada, o famoso rondel de "Antike", "Imperial" e "Hamburgum", aqui ele ousou fazer algo diferente, sem rondel. Claro que ele está lá, disfarçado, e o jogo é ainda assim diferente por isso mesmo. A procura de recursos, para poder adquirir influência junto das entidades religiosas, vamos fazendo uma gestão dos nossos movimentos, maximizando e capitalizando as disponibilidades productivas do mapa. Eu sempre gostei muito deste jogo, mais do que outros do mesmo autor e continuo a querer jogá-lo.
LE HAVRE de Uwe Rosenberg
Depois de "Agricola", Uwe trouxe ao mundo LE HAVRE, um jogo muito idêntico ao seu antecessor, mas ao mesmo tempo tão diferente. Em LE HAVRE, a busca pela comida é tão mais premente e difícil que quase desistimos de jogar o jogo. De turno para turno, aumenta de tal modo o grau de dificuldade que o transforma numa autêntica batalha de angústias e misérias. "Agricola" já era um jogo que premiava a gestão da eficácia, em LE HAVRE isso é ainda mais verdade, porque o primeiro erro, leva quase invariavelmente à derrota. Tirando a maior dificuldade, a maior angústia, o resto é igual ao primeiro. Decisões difíceis, worker placement, cartas e muitos tokens. O problema mais grave de LE HAVRE é a sua durabilidade. Com dois jogadores é perfeito. Com três jogável. Mas a partir dos 4 intervenientes o jogo arrasta e isso penaliza-o em relação os restantes nomeados. Mas de resto, é a consagração de Uwe.
NEFERTITI de Guillaume Montiage, Jacques Bariot and Thomas Cauet
Há muito tempo que não aparecia um jogo puro de area control, ainda mais, um que articule de forma elegante essa mecãnica com a de leilão disfarçado. É um jogo bem testado e original, mas apesar de tudo talvez um pouco seco. Talvez isso seja de algum modo inevitável i fruto do facto de ser filho de três pais, cada qual com a sua influência. A mim, sempre me pareceu um bastardo de Knizia. Mas é um jogo intenso, bem desenhado e com ritmo para agradar tanto a novatos como aos mais experimentados. Só lhe falta o tema, lá está, é à Knizia... a cuspo, mas apesar de tudo bem colado, e convence.
Luís Filipe e Costa
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