Lugarno

Do alto dos montes Apeninos, séculos de história nos contemplam. Pois! E nasce lá um rio. E esse rio é o rio Arno que desagua no Tirreno. E o Tirreno é o Mediterrâneo compartimentado. Boa. Aquela que já foi conhecida como a Linha Gótica, linha divisória da inimiga Alemanha Imperial, deu ao mundo o rio Arno e o sopé de montanha mais usado pelas cidades históricas da actual Itália (Pisa, Florença...).

O rio Arno atravessa toda a Toscânia e contempla várias cidades históricas durante o seu percurso. Mas Lungarno, o jogo, é, primeiro que tudo e apesar do mote ser um rio, um jogo sobre pontes. São as pontes que fazem o jogo porque são elas que criam os distritos ao redor do rio e é neles, nos distritos, que acenta a nossa estratégia.

Lungarno é um jogo simples, de tile placement, que demora cerca de 45 minutos a jogar. Poder-se-á, numa primeira abordagem, compará-lo com Carcassonne, esse mítico jogo inspirado na histórica vila francesa com o mesmo nome mas, não será assim tanto. Ou será? Bom, na verdade, para além de colocar tiles na mesa, também é suposto colocarmos mercadores na mesa. E os mercadores, conforme o local (tipo de tile) onde se encontram e também conforme os tiles modificadores que têm ao redor, apresentam pontuações diferentes, mais ou menos vantajosas. Ok! Acho que é mesmo parecido com Carcassonne, sim.

Quando montamos o tabuleiro vemos um jogo feio. Não há como dizer isto de outra forma. O jogo é feio. E é-o de tal maneira que, mesmo olhando para as regras e vendo os bonecos que lá aparecem, para conseguirmos interpretar o que os diversos tiles fazem, temos dificuldade em perceber. Não porque seja difícil de compreender mas porque é difícil "ler" os tiles, tal a falta de qualidade dos desenhos e das fotos nas regras. O tabuleiro, neste caso específico, são 5 tiles longitudinais, representando o rio Arno, e 3 pontes, que dividem o rio em 8 distritos, 4 em cada margem. É nesta divisão dos distritos que Lungarno se resolve.

Em cada um destes locais cabem, podem ser jogados, seis tiles. Estamos, portanto, a falar de pequenos distritos de seis peças que, uma vez fechados, ou seja, cheios, são pontuados. Aqui, o timing da decisão é fundamental, obviamente. Não há, verdade seja dita, neste tipo de jogos, timings que não sejam fundamentais. Porque as pontuações acontecem naquelas ínfimas oportunidades de colocar mais uma peça. E essa "mais uma peça", no momento certo, pode ser determinante.

Quando colocamos uma peça temos a oportunidade de colocar também um mercador. Um mercador é colocado num brasão que esteja presente na peça que jogámos. Os brasões representam famílias abastadas de Lungarno com quem nós queremos comercializar para ganhar dinheiro. Sim, o objectivo do jogo é ganhar dinheiro. Mas, em cada distrito, só um mercador pode estar a comercializar com a mesma família. Significa isto que, caso eu jogue uma peça e coloque um mercador num brasão dessa peça, não mais mercadores de outros jogadores ou meus, podem ser colocados em cima de um brasão do mesmo tipo nesse distrito específico.

Esta regra ajuda a garantirmos alguma segurança na pontuação porque sabemos que ali, com aquela família, já ninguém pode negociar. Há, claro, uma ligeira alteração a esta regra que é o uso de um tile específico - o escritório - que permite trocar uma peça mas, no cômputo geral, é só um detalhe.

Na sua génese, Lungarno pretende ser um jogo simples, com uma única acção por turno (caso um jogador pretenda fazer uma acção adicional tem de gastar dinheiro ou seja, pontos vitória) e regras muito simples. Em todos os jogos que fiz, e já foram alguns, a pontuação acabou sempre equilibrada, com um milésimo a decidir a vitória. Claro que isto, por si só, não significa que estejamos perante um jogo interessante. Há jogos decididos por um nariz que não são, de todo, interessantes mas, Lungarno, como principal atracção tem, de facto e na minha opinião, a característica de ser um jogo muito disputado, rápido e ensinável (mais do que "aprendível").

Em termos de inovação, como já se percebeu pelo meu comentário anterior e a comparação com Carcassonne, estamos conversados. Lungarno usa a mesma mecânica e sistema de alocação de mercadores, deixando de lado, unicamente, a componente puzzle. E ainda bem. Para mim, nesse factor, só saímos a ganhar. Tacticamente estamos perante um bom jogo que eu aconselho, sobretudo, para jogar a dois jogadores. Surgem, normalmente e a dois jogadores, partidas rasgadinhas, com algumas e boas facadinhas, ao nível de um bom jogo de bola de 3ª divisão em "pelado".

Caso o jogador casual apareça, pode-se meter Lungarno na mesa. Caso o jogador habitual apareça, pode-se experimentar Lungarno também. Mas Lungarno a mais, enjoa. A viagem aos tais Apeninos ainda era como o outro agora, na mesa, prefiro outros.

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